“Volta, sinuosidade de um caminho; Subtração fraudulenta; Linha secundária.”

Olha, isso é
só o que o dicionário diz pra gente quando a gente coloca “desvio” no
Google. A verdade é que ninguém nunca resolveu colocar isso atrelado ao que a gente
faz quando não consegue encarar uma coisa. Se fôssemos utilizar de metáforas
aqui, poderíamos falar que essa “Volta” descrita no início é pegar um caminho
mais longo, porque você não consegue suportar o que está no meio do caminho
mais curto. As vezes o caminho é sinuoso demais, como também encontramos na
descrição da palavra. Vai saber se as curvas do caminho que era pra ser seguido
são agudas demais, assim como a velocidade em que você quer se desfazer de algo
que faz parte de você. Assim, também como na descrição, você faz uma “Subtração
fraudulenta” de todo o sentimento que outrora te fez bem e significou alguma
coisa pra você. Finalmente, você toma a linha secundária. A linha do
esquecimento.
Essa
linha parece fácil, sem obstáculos, apenas uma linha reta como um papel em
branco pronto para ser sujo com tinta fresca de caneta. Essa estrada tem um
monte de oportunidades não escritas sobre formas em que se possa ler ou
enxergar, apenas uma larga estrada que leva ao desconhecido. Esse caminho já
foi muito desejado em momentos de transição, seja no final do ensino médio, ou
no final de uma faculdade. Até mesmo depois que você se cansou daquele patrão
escroto e o mandou mentalmente ir àqueles lugares. Nesses momentos, o tesão de
seguir por essa estrada se transforma em um grande “Vai, mano!”. E você
vai.
Eu mesmo já
fui adepto a esse caminho e sim, já o peguei algumas vezes. Mas alguma coisa
mudou. Minha sensação é diferente dessa vez. Eu acho que peguei o caminho
curto. Esse caminho é uma mistura de passado, presente e futuro, tudo em um só.
Lembra muito quando Barry Allen, o Flash – esse mesmo, o super herói - correu
tão rápido pra voltar no passado, que o caminho mostrou várias imagens de
tempos diferentes no universo. Coisas que ele tinha vivido, coisas que ele
estava vivendo e coisas que ainda nem aconteceram. Nesse caminho que eu tomei,
eu consegui encontrar todas as alegrias que eu vivi, todas as tristezas, todos
os planos, tudo. E o que eu tinha achado que seria uma sensação ruim, me
mostrou o quanto eu posso levar isso pra frente. No final, foram experiências.
Eu entendi que a grande questão nunca foi sobre o quanto do passado você
consegue apagar. É apenas tratar o que passou de uma forma diferente. Essa
decisão você toma na bifurcação. Na decisão entre o caminho mais difícil ou o
mais fácil.
Eu não vou
falar pra você que foi fácil. Se imagine no meu lugar. Quando eu era criança eu
pedi pra Deus exatamente uma pessoa com os mesmos traços à que eu “ganhei”
quando estive pronto. Ela veio e mudou muita coisa sobre tudo que eu pensava.
Deu pra ver nos flashes do passado, todas as etapas de um relacionamento
que, por muitos, foi visto como algo a se inspirar. E foi. Desde as inúmeras
declarações públicas de amor, até um casamento que eu honestamente não acredito
vivenciar outro tão bonito. No final das contas o passado me mostrou um caminho
de crescimento e amadurecimento – pausa para lembranças – pelo qual eu não vou
me arrepender NUNCA de ter vivido. Por que foi ele que me tornou a pessoa que
eu sou. Mesmo com todas as brigas por coisas bobas. Mesmo eu tentando
reaprender sobre o amor, sobre tentativas, fracassos e acertos, eu devo muito
do que aprendi nesses últimos anos dividindo minha história com alguém.
História essa que ao mesmo tempo que é pintura, é nódoa, é cicatriz, é
tatuagem. Sinto muito te dizer, mas não dá pra remover isso de você. Não existe
procedimento estético que apaga a história. Não é caminhando sobre uma estrada
em branco, que a estrada de pedrinhas pela qual você acabou de passar cai no
esquecimento. Eu preferi procurar os diamantes no meio dessas pedras em que
passei e sabe a melhor parte? Eu fiquei rico com o tanto de joias que eu
encontrei nesse caminho.
O que me dói é
uma coisa apenas. Ontem eu a vi quando olhei pra trás na bifurcação. Ela
escolheu o caminho em branco. Escolheu não levar nenhuma joia da estrada.
Escolheu não encarar a história e apenas cobrir a tatuagem. Eu virei uma curva
sinuosa para alguém que está com pressa demais para frear numa curva. Virei um
obstáculo, algo a ser evitado. Se eu estou triste com isso? É claro que estou,
mas eu deixei o melhor pro final. Eu ainda não te disse o que tem depois das
curvas sinuosas. O que tem depois disso é o mesmo caminho em branco, mas com
uma diferença: Você tem muito mais tintas para o colorir, afinal, você não tem
mais problemas com as cores que usou para colorir o caminho que ficou. A mensagem
que fica é simples: Não deixe suas cores pra trás.
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