segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Sobre ser homem

 

Tem sido difícil, nos últimos dias, ser homem. Essa frase pode soar esquisita do ponto de vista onde eu sou homem, hétero, branco e privilegiado. O problema está na dádiva do bom senso, e eu vou escrever aqui o porquê. Eu estou cansado de fingir ser um homem que eu não sou durante toda minha vida. Eu estou cansado de parecer forte quando me sinto fraco. Cansado de parecer confiante quando eu me sinto inseguro ou mesmo forte quando eu me sento triste. Eu estou cansado de fingir. E quer saber uma coisa? É cansativo fingir ser homem suficiente para todo mundo o tempo todo. 




Desde que eu era pequeno, a sociedade diferenciou muito bem o que é ser homem e o que é ser mulher. Desde pequeno ouvimos frases como “isso é coisa de mulherzinha” ou que determinada ação não era coisa de um homem. Ora, tudo que um garoto quer é ser aceito pela sociedade e por outros garotos, como se isso mostrasse esse pertencimento e isso significasse o homem que seríamos, e ser aceito pela sociedade como homem, era justamente fazer essa divisão do que era coisa de homem e o que não era. Era sobre aceitar a visão distorcida sobre o que a mulher significava. Sendo assim, nós meninos fomos ensinados a suprimir sentimentos que “naturalmente” seriam de mulher ou ser rejeitado por isso. Rejeitado por ser gentil demais, carinhoso demais ou simplesmente sentimental. Eu dou graças a Deus por ter sido criado majoritariamente pela minha mãe, que me ensinou que não tinha problema nenhum ter esses sentimentos agregados, mas mesmo assim a sociedade me jogou isso garganta abaixo. Não nos meus atos em si, mas no personagem que eu tinha que ser para me encaixar nessa sociedade, que naquela época que não sabia dar nomes, mas agora fica fácil classificar como machista. Eu tive muita sorte das minhas amizades não requererem provas de uma super masculinidade naquela época. Cresci num bairro legal, com pessoas legais, mas naturalmente você é corrompido em outros círculos e o personagem vai ficando mais convincente. Cada vez mais você age tentando provar esse rótulo de homem contrariando o que realmente está dentro de você. Como eu disse no início do texto, e eu como homem afirmo que isso é errado, é tóxico e chegou a hora disso acabar.

Como Keanu Reaves disse em entrevista “eu não quero viver num mundo onde ser gentil é um defeito ou motivo de piadas machistas”. Eu não quero me encaixar no padrão de masculinidade que existe hoje, porque eu não quero ser somente um bom homem, eu quero ser uma boa pessoa e, eu acredito muito que para isso acontecer, nós precisamos abraçar as qualidades que a sociedade nos disse que são qualidades femininas. Mais que isso, nós precisamos aprender com elas sobre como abraçar isso. Eu tenho certeza que, assim como eu, muitos homens se veem na mesma situação. De ter medo de ser o chato do rolê por corrigir o amigo, de não dar um toque quando alguém está sendo machista do seu lado, mesmo que você não conheça, ou melhor, mesmo se você conhecer bem. Mas como eu disse, eu cansei disso. Depois do que aconteceu nessa última semana ficou difícil permanecer em silêncio vendo tantas mulheres serem agredidas moralmente por que nós estamos com medo de nos posicionar. Eu não quero mais ser o cara que fica calado.

Se ser homem significa ser forte, que tenhamos força para levantar nossa voz e ir contra a nossa sociedade que ignora as mulheres quando são assediadas. Se ser homem significa ter coragem, que tenhamos coragem de corrigir um amigo na mesa de bar quando ele fizer uma piada machista. Se ser homem é ser confiante o bastante, que sejamos confiantes em abaixar a cabeça quando uma mulher nos disser como se comportar, por que aquilo pode estar machucando alguém. Eu sinto que chegou a hora de redefinir todas essas qualidades que acreditamos ser masculinas, para explorar nossos corações e entender que isso não nos torna melhor do que ninguém. Ser forte também é poder chorar e entender que está tudo bem. Ser corajoso é não ter medo de ser vulnerável e que, para ser confiante, não é necessário ser turrão, que também podemos ceder.

Dito isto, eu cansei de fingir. A partir de agora eu redefino todas as características que me fizeram crer que eu não seria homem por isso, e as abraço para fazer o mundo um pouco mais confortável. Deste momento, eu não vou me omitir mais e também não vou ficar calado. Não só pelo fato de não aguentar fingir ser o homem que o mundo estabeleceu, mas não aguentar mais ser passivo em um mundo onde as mulheres sofrem por um problema que nós homens causamos. Eu não quero que a próxima geração seja melhor, eu quero começar agora a fazer o mundo de hoje se tornar melhor para as mulheres.  Informação, leitura e ideias de como ser melhor nós já temos. Basta pôr em prática.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Desvio

 


“Volta, sinuosidade de um caminho; Subtração fraudulenta; Linha secundária.”

Placa de Obra - Desvio - 1 x 0,50m - Iplacas Sinalização

Olha, isso é só o que o dicionário diz pra gente quando a gente coloca “desvio” no Google. A verdade é que ninguém nunca resolveu colocar isso atrelado ao que a gente faz quando não consegue encarar uma coisa. Se fôssemos utilizar de metáforas aqui, poderíamos falar que essa “Volta” descrita no início é pegar um caminho mais longo, porque você não consegue suportar o que está no meio do caminho mais curto. As vezes o caminho é sinuoso demais, como também encontramos na descrição da palavra. Vai saber se as curvas do caminho que era pra ser seguido são agudas demais, assim como a velocidade em que você quer se desfazer de algo que faz parte de você. Assim, também como na descrição, você faz uma “Subtração fraudulenta” de todo o sentimento que outrora te fez bem e significou alguma coisa pra você. Finalmente, você toma a linha secundária. A linha do esquecimento.

                Essa linha parece fácil, sem obstáculos, apenas uma linha reta como um papel em branco pronto para ser sujo com tinta fresca de caneta. Essa estrada tem um monte de oportunidades não escritas sobre formas em que se possa ler ou enxergar, apenas uma larga estrada que leva ao desconhecido. Esse caminho já foi muito desejado em momentos de transição, seja no final do ensino médio, ou no final de uma faculdade. Até mesmo depois que você se cansou daquele patrão escroto e o mandou mentalmente ir àqueles lugares. Nesses momentos, o tesão de seguir por essa estrada se transforma em um grande “Vai, mano!”. E você vai.

Eu mesmo já fui adepto a esse caminho e sim, já o peguei algumas vezes. Mas alguma coisa mudou. Minha sensação é diferente dessa vez. Eu acho que peguei o caminho curto. Esse caminho é uma mistura de passado, presente e futuro, tudo em um só. Lembra muito quando Barry Allen, o Flash – esse mesmo, o super herói - correu tão rápido pra voltar no passado, que o caminho mostrou várias imagens de tempos diferentes no universo. Coisas que ele tinha vivido, coisas que ele estava vivendo e coisas que ainda nem aconteceram. Nesse caminho que eu tomei, eu consegui encontrar todas as alegrias que eu vivi, todas as tristezas, todos os planos, tudo. E o que eu tinha achado que seria uma sensação ruim, me mostrou o quanto eu posso levar isso pra frente. No final, foram experiências. Eu entendi que a grande questão nunca foi sobre o quanto do passado você consegue apagar. É apenas tratar o que passou de uma forma diferente. Essa decisão você toma na bifurcação. Na decisão entre o caminho mais difícil ou o mais fácil.

Eu não vou falar pra você que foi fácil. Se imagine no meu lugar. Quando eu era criança eu pedi pra Deus exatamente uma pessoa com os mesmos traços à que eu “ganhei” quando estive pronto. Ela veio e mudou muita coisa sobre tudo que eu pensava. Deu pra ver nos flashes do passado, todas as etapas de um relacionamento que, por muitos, foi visto como algo a se inspirar. E foi. Desde as inúmeras declarações públicas de amor, até um casamento que eu honestamente não acredito vivenciar outro tão bonito. No final das contas o passado me mostrou um caminho de crescimento e amadurecimento – pausa para lembranças – pelo qual eu não vou me arrepender NUNCA de ter vivido. Por que foi ele que me tornou a pessoa que eu sou. Mesmo com todas as brigas por coisas bobas. Mesmo eu tentando reaprender sobre o amor, sobre tentativas, fracassos e acertos, eu devo muito do que aprendi nesses últimos anos dividindo minha história com alguém. História essa que ao mesmo tempo que é pintura, é nódoa, é cicatriz, é tatuagem. Sinto muito te dizer, mas não dá pra remover isso de você. Não existe procedimento estético que apaga a história. Não é caminhando sobre uma estrada em branco, que a estrada de pedrinhas pela qual você acabou de passar cai no esquecimento. Eu preferi procurar os diamantes no meio dessas pedras em que passei e sabe a melhor parte? Eu fiquei rico com o tanto de joias que eu encontrei nesse caminho.

O que me dói é uma coisa apenas. Ontem eu a vi quando olhei pra trás na bifurcação. Ela escolheu o caminho em branco. Escolheu não levar nenhuma joia da estrada. Escolheu não encarar a história e apenas cobrir a tatuagem. Eu virei uma curva sinuosa para alguém que está com pressa demais para frear numa curva. Virei um obstáculo, algo a ser evitado. Se eu estou triste com isso? É claro que estou, mas eu deixei o melhor pro final. Eu ainda não te disse o que tem depois das curvas sinuosas. O que tem depois disso é o mesmo caminho em branco, mas com uma diferença: Você tem muito mais tintas para o colorir, afinal, você não tem mais problemas com as cores que usou para colorir o caminho que ficou. A mensagem que fica é simples: Não deixe suas cores pra trás.

domingo, 2 de agosto de 2020

Nostalgia

    Olha, esse texto não é sobre mim. Esse texto não é sobre nós ou sobre o tempo que passamos juntos. Esse desabafo é sobre algo que martela a todo tempo na cabeça e que por diversas vezes o ouvi sobre outras condições. Esse texto é sobre a nostalgia, ou melhor, sobre os efeitos da nostalgia. Aqui não vou citar nenhum autor, eu vou somente dar voz a alguém que eu não consigo mais manter calado. Coração, pode falar agora.

    Um mês de uma das decisões mais difíceis da minha vida, a gente consegue colocar em ordem quase que exatamente todas as conclusões do que levaram a tal decisão. Sempre irão ficar alguns questionamentos como os “E se?” da vida. 


“E se eu tivesse feito isso?”; 

“e se eu tivesse relevado aquilo?”; 

“e se a gente tivesse conversado mais?”. 


    Essas respostas não são nada mais do que o seu cérebro tentando te trazer perguntas que, na real, nunca serão respondidas, a menos que inventem uma cápsula do tempo. O que fica na real pra gente entender é basicamente o “e agora?”.  Essa é a pergunta mais safada de todas e, ao mesmo tempo, a que traz pra gente um medo absurdo, simplesmente porque também não temos o poder de prever o futuro. O que sobra é só eu, meu gato e meu computador que está trabalhando neste texto nesse minuto. É o que a gente chama de presente, palavra de duplo sentido, mas que nesse momento a gente não tem força pra classificar como uma coisa necessariamente boa, ou melhor, como algo que estamos ganhando. Vamos nos ater a essa palavra pela simples conotação do agora. O que podemos dizer disso é simples: Por hora, o agora dói.

    Dói no primeiro contato com amigos, que quando nós decidimos que não ficaríamos mais juntos, tínhamos até uma vontade de contar toda a história do que aconteceu, mas a cada vez que eu contava, vinham todas àquelas lembranças dos “e se?”. Um mês depois a gente usa cada vez menos palavras pra definir o que aconteceu. “Ah, não deu certo. Foi a convivência”. E toda uma história é resumida em uma frase. É justificável ao entender que cada vez que toda a história é contada o coração machuca um pouco e, por isso, quanto menos palavras usadas pra descrever um fim que a gente nem entende tanto assim – e por isso dói tanto – melhor é pra gente parar de se automutilar. Dói o olhar de pena das pessoas com aquele “Vocês eram tão lindos juntos”, “Tínhamos vocês como exemplo”, ou “você vai ficar bem” estampado no rosto. É duro encontrar forças pra sorrir nesses momentos e dizer “tá tudo bem”, sendo que nós sabemos que não está. E não pelo fato do término. É pela nostalgia. A nostalgia dói quando você olha pra sua playlist do Netflix e vê mais comédias românticas nos recomendados do que normalmente você assiste afinal, sua conta estava na TV do quarto, onde ela assistia. Logo você se vê passando rápido pelos títulos, porque isso já te trouxe lembranças. Dói quando seu filme de comédia favorito é o mesmo dela e que as piadas do filme, por mais engraçadas que sejam, já não te fazem rir. Eu estou chorando agora. 


Vacation (filme) – Wikipédia, a enciclopédia livre

    Você também passa a não gostar de escutar àquela banda que você sempre colocava no carro pra ela. A vontade era de escutar outra coisa, mas fazer segunda voz com seu parceiro é pra poucos. Aí até a vontade de escutar o que você queria, passa, e qualquer música serve. Toda música vai acabar fazendo sentido de um jeito ou de outro. Ou vai falar dos momentos bons em que a gente teve, ou de momentos ruins, como o que estamos vivendo agora. Dói de saber as comidas que você nunca mais vai comer. Algumas eram receitas dela, outras adaptadas e outras ainda, que pedíamos pelo aplicativo. Umas especialmente em dias que as coisas não estavam bem ou, em comemoração a algo que tinha acabado de ficar bom. O jeito é eternizar isso na sua memória porque gosto infelizmente a gente não consegue lembrar. Pior pode ser a frustração da comida não ter o mesmo sabor.

    De pouco a pouco você vai percebendo que nós, no presente, somos nada mais do que pessoas sem identidade afinal, toda nossa personalidade se misturou ao longo dos anos e não sabemos mais o que é meu e o que é da outra pessoa. Nos sobra o único recurso de fazer um “reset” em nós mesmos pra redescobrirmos coisas novas. O mal em morar numa cidade pequena é que você está fadado a se deparar todos os dias com as coisas que, só faziam sentido, quando você dividia com outra pessoa. Todo esse tempo junto foi capaz de significar muitas coisas ao nosso redor, desde o jeito que a gente arruma a cama, até aprender a dormir de pijamas. E não, não adianta dormir sem pijamas, por que você já foi convencido de não usar as roupas de ficar em casa pra dormir. É um beco sem saída onde a voz que ecoa é a voz que sempre esteve contigo. Não mais. 

    O presente vira uma grande adaptação de ter como seu guia, sua própria voz ecoando sem parar na sua cabeça numa falha tentativa de respostas a perguntas que você mesmo se fez. Parece loucura, não é? Mas quando se está sozinho, o cérebro cria essas peças pro coração se enganar tentando dizer “Ei, você não está sozinho”. O coração só parece ser bobo, mas uma hora a ficha cai e a gente percebe onde está.

    Já é de noite, é hora de dormir e você já não precisa mais fazer silêncio na hora de entrar no quarto. Não tem ninguém pra ser acordado. Não tem beijo de boa noite. Não tem “Dorme com Deus”. Não tem nem ninguém puxando sua coberta no meio da noite. Só tem nós mesmos e o agora. Se o presente virá ser um presente, nós esperamos que sim. Porque quando você está pronto pra essa fase da vida, esses pequenos detalhes tem um peso imenso na sua rotina. Não será a mesma pessoa. Não serão os mesmos costumes. Mas tem que ser alguém. Esse é o momento em que você suplica pra nostalgia parar de doer, É a hora que você quer transformar a nostalgia apenas em lembranças, sem tons. Acho que é nesse momento que a gente descobre que finalmente a gente se desvencilhou por completo do outro e finalmente pôde se encontrar.

    Parece que encontramos a solução, coração. Infelizmente pra nós, é o tempo. E isso ainda vai doer. Não te prometo uma cura rápida. Que doa. Que nós possamos sentir tudo que há pra sentir. Até o dia que parar de doer. Até o dia que fizer sentido que, o que aconteceu, teve que acontecer. Se eu espero que esse dia seja logo? Não, eu só espero que ele chegue. E que seja bom pra nós.

    Esse texto não é sobre mim. Esse texto não é sobre nós, mas sobre o tempo que não passaremos mais juntos.


segunda-feira, 13 de março de 2017

Sobre o que diz a sua música atual?



Já reparou que chega um ponto da sua vida onde basicamente nenhuma letra de música se encaixa no que você está vivendo? É como se fosse um limbo, onde nada é aplicado a você. Você vive e pronto. Já reparou? Eu sei que já. Isso geralmente acontece em momentos de extrema monotonia ou rotina constante. Você é um livre reprodutor das suas vontades motoras, um constante playback de espasmos corporais e mentais de tudo que você é acostumado a fazer no dia a dia. Fica tranquilo, uma hora passa. Mas ninguém te diz o seguinte: Não é mais fácil quando as letras de música dizem o que você não teve ouvidos para escutar.

não vai parar de ouvir essa música tão cedo.

 A verdade é que saber realmente o que sempre te incomodou, ou incomodava, não faz nenhuma diferença no que vai acontecer daqui para frente, apenas no que poderia ter acontecido no passado e se isso faria alguma diferença hoje, no presente. Hoje você já passou – bem ou mal – pelo problema, e a música vai ter um papel singular no seu dia, que é simplesmente te mostrar como você se sentiu naquele momento que passou. Claro, eu te entendo e sei que seria mais fácil ter ouvido isso antes, mas a vida prega peças em nós que, a graça toda é compreender depois que passou. Como a gente tira um aprendizado disso é uma tarefa que só cabe a nós descobrir. Cada um tem um jeito diferente de reagir, seja tirando a tal música no violão e provando para ela o quanto você pode domina-la e abdicar do seu significado para si mesmo, salvar no Spotity para lembrar todo dia que é assim que você se sente ou ignorar ou etc. De qualquer maneira a única saída é vencer a música. Sair da condição de presente instrumento para espectador. Um lugar onde você não vai fazer mais parte. Uma outra música, que talvez não seja uma que te diga agora o que você é, mas que talvez te de um spoiler de quem você quer ser ou como você quer estar. O problema está na melodia. Ela que é a responsável por te fazer balbuciar o som da canção e fazer automaticamente seu cérebro recordar a letra, e isso meu amigo, vai te fazer lembrar. Como fugir disso? Essa é uma boa pergunta, mas eu não sou perito na arte de esquecer canções. Hoje eu sou um mero companheiro de “prisão da música”, onde meu recente passado está sendo repetido diariamente para mim a cada play que eu dou em qualquer streaming. É quase uma tortura diária ouvir dos seus companheiros que sempre lhe dizem coisas legais no dia a dia, passarem a fazer essas “coisas legais” serem um chicote nas suas costas em cada nota tocada. A primeira coisa que vem na cabeça é “para de ouvir isso então”. Eu já tentei. Estou quase chegando na conclusão que, nesse ponto, somos sadomasoquistas musicais. Nós gostamos de tomar porrada das músicas. Parece que a gente acostuma tanto que, fazer com que as músicas tenham mais sentido, façam a dor ser compreendida, e era nesse ponto que eu queria chegar. Nós precisamos da dor. Ou pelo menos o arranhão na ferida para mostrar que é real e, que somos nós mesmos quem fazemos isso conosco. 

O que tiramos disso tudo? Não importa o que você faça para fugir daquilo que te prendeu ou te deixou num lugar onde você não queria estar, a resposta e o balde de água fria vai vir do lugar mais próximo de você, os seus fones de ouvido. Uma dica: sempre traduza as músicas que você gosta. Evite traduzir as de melodia triste, são elas que vão pra sua playlist depois.

segunda-feira, 6 de março de 2017

A alça do caixão

Hoje foi meu dia de segurar um caixão. Sabe aquela alça do lado do caixão que serve para as pessoas carregarem ele no momento final? Hoje eu fui um dos escolhidos. Uma coisa eu posso te dizer: Não há glória alguma nisso.



                Eu nunca gostei de funerais, acho que tenho alguns problemas com despedidas, mas toda vez que eu ia a algum velório, seja de parentes ou de pessoas próximas aos meus amigos eu notava sempre quem ia levar o caixão. Na maioria das vezes eram homens. Filhos, netos, sobrinhos, irmãos, sempre algum familiar que sabia que teria que, de certa forma, segurar a barra do resto da família e deixar eles chorando enquanto fazem o caminho fúnebre até a cova. Acredito que tem muito a ver com coragem, porque ser o último a carregar uma pessoa importante para você pode não ser uma tarefa muito fácil. Na verdade, não existe nenhuma facilidade nisso e hoje eu pude confirmar. A primeira parte é se desprender do corpo, aceitar que aquilo que está deitado, imóvel e sem nenhum suspiro, não passa de alguém que já foi e deixou um pedaço físico para trás, seja para onde for que a grande parte tenha ido. Isso varia de pessoa para pessoa, comigo esse não foi um problema. Minha última lembrança não poderia ser melhor. Um “eu te amo” carinhoso com um sentimento de “te vejo em breve” seguido de um abraço ímpar entre neto e avó. Espero que vocês tenham sentido isso um dia. Então a primeira parte foi fácil, não tanto como a segunda, que é compreender o que foi deixado para trás. Não estou falando só de pessoas, estou falando de elos. Essa é a parte onde você começa a enxergar o que foi quebrado. Em alguns casos, famílias inteiras são separadas por conta desses fins, e é triste saber que um almoço que reunia várias pessoas em volta de uma, fica distante quando essa pessoa não está. A terceira parte é a responsabilidade, e foi aí que eu me vi em todos os velórios que fui. Como eu disse, não há glória nisso, e é aí onde eu quero chegar: Tampouco é fácil. Como segurar um sexto da pessoa no seu último momento e porque tem que ser você? Quem você é para dar os últimos passos em direção ao adeus, quando não existe só você ali? Você está apto a aguentar o peso? Você consegue dizer adeus? A resposta não é simples. Nós não estamos nunca preparados.


                Estou em casa. Ainda consigo sentir o peso no meu ombro. Eu não sei se quero me livrar dessa dor ainda. Na verdade, é uma dor que acumula com muitas outras. O que me faz pensar que todo dia carregamos um caixão diferente. Com pesos diferentes, com histórias diferentes, mas cada uma com seu significado. De certo modo, cada dia deixamos algumas coisas para trás e também é verdade que sentimos muito elas. Em alguns nós não chegamos nem perto da alça, e rezamos para não chegar, mas é na hora que chega nossa vez que a gente não tem certeza do que fazer. A única coisa que podemos esperar, é que tenhamos nos desprendido o suficiente, que o elo não se parta por completo, e que tenhamos muita sabedoria para lidar com as responsabilidades. Cada caixão é um caixão diferente, mas todos têm histórias. Sempre vamos sentir falta.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Better Together


    Rápido, intenso, sagaz, ousado, impecável, quântico, neural, químico e quase transcedental. Palavras que juntas se transformam num fenômeno resumido: você


       Aquele velho sorriso bobo voltou. Um sorriso que há pouco sumido, retorna ao rosto quase que num súbito momento de inocência, ignorância e sintonia. A mesma que me faz digitar rapidamente as teclas do celular assim que você sai de vista. Do mesmo jeito que me faz chamar o telefone de “melhor amigo”, logo que você aparece por ele. Seja numa mensagem, numa voz ou numa fotografia. Aquela velha inspiração também voltou. Com tudo e com coisa pra falar. Palavras que surgem entre um suspiro e outro, sem pausas, só “feeling”. Eu não preciso de mais nada. Joguei meu pé de coelho fora e meu trevo de quatro folhas, eles já me deram a sorte que eu precisava, agora quem faz o resto é você. Sem esforços, é claro, você não precisa disso. Você chega e...tá tudo bem, tá tudo zen, meu bem. 

       Sou merecedor de tal prêmio. Mesmo que sem querer, sem prever, sem saber, aconteceu. Aconteceu. Embora cartas dissessem o contrário, o espetáculo começou com você. Na verdade, você virou a atriz principal. Quer saber mais? Está concorrendo ao Oscar. O que eu quero é que simplesmente levemos o prêmio de melhor filme, você e eu. Acho isso possível, a gente já acredita nisso. Acreditar faz tudo ficar mais fácil e depois de tempos de ceticismo, eu voltei a acreditar. Em mim e em outra pessoa. Fico feliz que seja você, eu precisava que fosse você, ou...ou...iria acreditar num vão pedaço de papel amassado. Um papel sem importância e coadjuvante. Como eu disse, gosto das grandes coisas e prêmios menores não me interessam. 

Você venceu, me venceu e é minha vencedora. Heroína que me salvou e me viciou.


            Não aguentaria a abstinência, portanto fique. Por horas, por dias, por meses ou mesmo alguns minutos depois do teatro. Já sou um viciado e estou sobre seus cuidados. Cuidado, de relance posso também viciar e não desgrudar mais. Sem texto decorado, só improviso, tá na ponta da língua. Vou dividir contigo, esse sou eu criando meu universo perfeito, meu palco e um lugar especial pra você sob meu mais brilhante holofote. Brilhe, apenas brilhe. É o que você faz melhor. Me guie. Me mostre onde ir e estarei com você. Onde for. Onde você for.


Us!

terça-feira, 12 de março de 2013

Até mais


Já não sinto mais nada. Foram as semanas mais rápidas até hoje. O que é controverso, levando em conta a gravidade do que aconteceu. Eu achei exatamente que esse sentimento angustiante de espera ficaria perdurando por muito mais tempo. Eu estava enganado, passou mais rápido do que eu pensei.

De alguma maneira meu inconsciente já sabia de tudo e tinha me preparado pra isso, afinal, a gente sempre tem um palpite do que pode dar certo, ou não. Meu palpite estava aliado ao que eu posso resistir. Não me digam que só o amor, só o sentimento de carinho basta pra duas pessoas darem certo, porque você estaria mentindo. Outros fatores agregam tanta importância quanto o mais puro amor sem pudores. Não que eu já tenha sentido isso, mas digamos que eu sei o que é um relacionamento que da certo. Eu já não sabia com quem estava lutando, se era contra o que eu sentia, se era contra o que ela sentia ou simplesmente se era contra a minha própria ideia. No final das contas, não era contra nenhum deles, eu estava lutando contra a razão. A pura lógica do certo e do errado. Do simples e do confuso. Do puro e do sujo. Tudo isso fez diferença, teve que fazer. Nessa história não existem culpados, existem os enganados. Às vezes cegos, mas sempre enganados. Sempre achando que driblar um problema o faria escapar de outro, quando na verdade atrás tudo se acumulava. Aceitar a logística do problema é simples, quando já se está encurralado. É esperar bater e sentir, mas como eu disse, já não sinto mais nada. Já doeu, já caí e já me levantei como sempre faço. Porém, eu olho para o lado e ainda vejo alguém caído. Não é a minha intenção ajuda-la a levantar. Eu fiz isso sozinho, não tenho intenção de fazer por mais ninguém e sinceramente, não quero que ninguém jamais faça isso por mim. Cada queda é um aprendizado, isso já se torno clichê, mas é a pura verdade. Venho caindo há muito tempo. Estou em período inconstante e não sei quando vou estabilizar.

Medo? Insegurança? Falta de objetivo?

Pelo contrário, a ideia é justamente o oposto. Eu preciso de mim. Preciso em condições plenas. Preciso da minha faculdade mental para me abastecer. Corpo e alma, preciso de ambos. Intactos, como se estivessem acabado de se redescobrir. É a velha ideia de um tempo pra si, disso que eu preciso.
Não quero mais e isso já está decidido. Que o sentimento acabe aqui e retorne quando deve retornar. Sem delongas, boas férias.