Tem sido
difícil, nos últimos dias, ser homem. Essa frase pode soar esquisita do ponto
de vista onde eu sou homem, hétero, branco e privilegiado. O problema está na
dádiva do bom senso, e eu vou escrever aqui o porquê. Eu estou cansado de
fingir ser um homem que eu não sou durante toda minha vida. Eu estou cansado de
parecer forte quando me sinto fraco. Cansado de parecer confiante quando eu me
sinto inseguro ou mesmo forte quando eu me sento triste. Eu estou cansado de
fingir. E quer saber uma coisa? É cansativo fingir ser homem suficiente para
todo mundo o tempo todo.
Desde que eu
era pequeno, a sociedade diferenciou muito bem o que é ser homem e o que é ser
mulher. Desde pequeno ouvimos frases como “isso é coisa de mulherzinha”
ou que determinada ação não era coisa de um homem. Ora, tudo que um garoto quer
é ser aceito pela sociedade e por outros garotos, como se isso mostrasse esse
pertencimento e isso significasse o homem que seríamos, e ser aceito pela
sociedade como homem, era justamente fazer essa divisão do que era coisa de
homem e o que não era. Era sobre aceitar a visão distorcida sobre o que a
mulher significava. Sendo assim, nós meninos fomos ensinados a suprimir
sentimentos que “naturalmente” seriam de mulher ou ser rejeitado por
isso. Rejeitado por ser gentil demais, carinhoso demais ou simplesmente
sentimental. Eu dou graças a Deus por ter sido criado majoritariamente pela
minha mãe, que me ensinou que não tinha problema nenhum ter esses sentimentos
agregados, mas mesmo assim a sociedade me jogou isso garganta abaixo. Não nos
meus atos em si, mas no personagem que eu tinha que ser para me encaixar nessa
sociedade, que naquela época que não sabia dar nomes, mas agora fica fácil
classificar como machista. Eu tive muita sorte das minhas amizades não
requererem provas de uma super masculinidade naquela época. Cresci num bairro
legal, com pessoas legais, mas naturalmente você é corrompido em outros
círculos e o personagem vai ficando mais convincente. Cada vez mais você age
tentando provar esse rótulo de homem contrariando o que realmente está dentro
de você. Como eu disse no início do texto, e eu como homem afirmo que isso é
errado, é tóxico e chegou a hora disso acabar.
Como Keanu
Reaves disse em entrevista “eu não quero viver num mundo onde ser gentil
é um defeito ou motivo de piadas machistas”. Eu não quero me encaixar no
padrão de masculinidade que existe hoje, porque eu não quero ser somente um bom
homem, eu quero ser uma boa pessoa e, eu acredito muito que para isso
acontecer, nós precisamos abraçar as qualidades que a sociedade nos disse que
são qualidades femininas. Mais que isso, nós precisamos aprender com elas sobre
como abraçar isso. Eu tenho certeza que, assim como eu, muitos homens se veem
na mesma situação. De ter medo de ser o chato do rolê por corrigir o amigo, de
não dar um toque quando alguém está sendo machista do seu lado, mesmo que você
não conheça, ou melhor, mesmo se você conhecer bem. Mas como eu disse, eu
cansei disso. Depois do que aconteceu nessa última semana ficou difícil
permanecer em silêncio vendo tantas mulheres serem agredidas moralmente por que
nós estamos com medo de nos posicionar. Eu não quero mais ser o cara que fica
calado.
Se ser homem
significa ser forte, que tenhamos força para levantar nossa voz e ir contra a
nossa sociedade que ignora as mulheres quando são assediadas. Se ser homem
significa ter coragem, que tenhamos coragem de corrigir um amigo na mesa de bar
quando ele fizer uma piada machista. Se ser homem é ser confiante o bastante,
que sejamos confiantes em abaixar a cabeça quando uma mulher nos disser como se
comportar, por que aquilo pode estar machucando alguém. Eu sinto que chegou a
hora de redefinir todas essas qualidades que acreditamos ser masculinas, para
explorar nossos corações e entender que isso não nos torna melhor do que
ninguém. Ser forte também é poder chorar e entender que está tudo bem. Ser
corajoso é não ter medo de ser vulnerável e que, para ser confiante, não é
necessário ser turrão, que também podemos ceder.
Dito isto, eu
cansei de fingir. A partir de agora eu redefino todas as características que me
fizeram crer que eu não seria homem por isso, e as abraço para fazer o mundo um
pouco mais confortável. Deste momento, eu não vou me omitir mais e também não
vou ficar calado. Não só pelo fato de não aguentar fingir ser o homem que o
mundo estabeleceu, mas não aguentar mais ser passivo em um mundo onde as
mulheres sofrem por um problema que nós homens causamos. Eu não quero que a
próxima geração seja melhor, eu quero começar agora a fazer o mundo de hoje se
tornar melhor para as mulheres. Informação,
leitura e ideias de como ser melhor nós já temos. Basta pôr em prática.



